Parte 8

O Além e a Sobrevivência do Ser




Tendo passado em revista os principais fenômenos que servem de base ao moderno espiritualismo, deixaríamos incompleto o nosso resumo se não disséssemos alguma coisa acerca das objeções apresentadas e das teorias contrárias, com o auxílio das quais se há tentado explicar os mesmos fenômenos.


O Espiritismo, dizem, não é mais do que um conjunto de fraudes e de embustes. Todos os fatos extraordinários que lhe servem de apoio são simulados.


É exato que alguns impostores têm procurado imitar os fenômenos; porém, suas artimanhas hão sido facilmente descobertas e os espíritas os primeiros a assinalá-las. Em quase todos os casos citados acima – aparições, materializações de Espíritos – os médiuns trabalharam atados, amarrados às cadeiras em que se sentavam; muitas vezes os experimentadores foram até ao extremo de lhes segurarem os pés e as mãos. De algumas feitas chegaram mesmo a ser encerrados em gaiolas, especialmente preparadas para esse fim, fechadas a chave, ficando esta em poder dos operadores, que por seu turno cercavam o médium. É em tais condições que numerosas materializações de fantasmas se produziram.


Em suma, as imposturas quase nunca deixaram de ser desmascaradas e muitos dos fenômenos jamais foram imitados pela razão de que escapam a toda e qualquer possibilidade de imitação.


Os fenômenos espíritas têm sido observados, verificados, fiscalizados por sábios cépticos, que hão percorrido todos os graus da incredulidade e cujo convencimento só pouco a pouco se operou, sob a pressão contínua dos fatos.


Esses sábios eram homens de gabinete, físicos e químicos experimentados, médicos e magistrados. Tinham todos os requisitos, toda a competência necessária para desmascarar as mais hábeis fraudes e desfazer as tramas mais bem urdidas. Seus nomes figuram entre os que a Humanidade inteira respeita e venera. Ao lado de tantos homens ilustres, todos os que se têm dado a um estudo paciente, consciencioso e perseverante dos fenômenos espíritas lhes afirmam a realidade, enquanto que a crítica e a negação vêm de pessoas cuja opinião, baseada em noções insuficientes, não pode deixar de ser superficial.


A algumas delas sucedeu já o que costuma suceder aos observadores inconstantes. Não obtiveram mais do que resultados insignificantes, não raro até negativos e, em conseqüência, se tornaram ainda mais cépticos. Não quiseram levar em conta uma cláusula essencial: que o fenômeno espírita está sujeito a condições que cumpre sejam conhecidas e observadas. 15 Muito depressa se lhes cansou a paciência. As provas que exigem não podem ser obtidas em poucos dias. Os sábios que formularam conclusões afirmativas e cujos nomes já muitas vezes declinamos, estudaram a questão durante anos e anos. Não se contentaram com o assistir a algumas sessões mais ou menos bem dirigidas e com o auxílio de bons médiuns. Deram-se ao trabalho de pesquisar os fatos, de os classificar e analisar; desceram ao fundo das coisas. O bom êxito, por isso, lhes coroou a perseverança e o método de investigação que puseram em prática se pode apontar como exemplo a todos os investigadores sérios.


Entre as teorias engendradas para explicar os fenômenos espíritas, a da alucinação ocupa sempre lugar saliente. Perdem, porém, toda a sua razão de ser diante das fotografias de Espíritos obtidas por Aksakof, Crookes, Volpi, Ochorowicz, W. Stead e tantos outros. Não se fotografam alucinações!


Os Invisíveis impressionam não só as chapas fotográficas, mas também instrumentos de precisão, como os registradores Marey 16; suspendem, decompõem e compõem objetos materiais; deixam marcas na parafina quente. Tudo isso são outras tantas provas contra a teoria da alucinação, quer individual, quer coletiva.


Alguns críticos vêem nos fenômenos espíritas vulgaridade, grosseria, trivialidade e os consideram ridículos. Essas apreciações demonstram a incompetência de tais críticos. As manifestações não podem ser diversas do que seriam se fossem produzidas pelo mesmo Espírito, quando em vida na Terra. A morte não nos muda e, no Além, somos apenas o que nos tornamos neste mundo. Daí a inferioridade de tantos seres desencarnados.


Por outro lado, as manifestações triviais e grosseiras têm sua utilidade: são as que melhor revelam a identidade do Espírito. Graças a elas, grande número de experimentadores se convenceram da realidade da sobrevivência e foram levados a pouco e pouco a observar, a estudar fenômenos de ordem mais elevada, por isso que, como temos visto, os fatos se encadeiam e se ligam numa ordem graduada, em virtude de um plano que parece indicar a ação de uma potência, de uma vontade superior, que procura arrancar a Humanidade da indiferença e impeli-la à indagação e ao estudo de seus destinos. Os fenômenos físicos – mesas falantes, casas assombradas, – eram necessários para atrair a atenção dos homens, mas neles não se deve ver mais do que meios preliminares, um encaminhamento para domínios mais elevados do saber.


Em cada século, a História retifica seus juízos. O que parecia grande se amesquinha, o que parecia pequeno se engrandece. Já hoje se começa a compreender que o Espiritismo é um dos mais consideráveis acontecimentos dos tempos modernos, uma das mais notáveis formas da evolução do pensamento, o gérmen de uma das maiores revoluções morais de quantas o mundo haja conhecido.


Pelo que respeita ao estudo das manifestações psíquicas, os espíritas sabem que se acham em boa companhia. Os nomes ilustres de Russel Wallace, de Crookes, de Robert Hare, de Wagner, de Flammarion, de Myers, de Lombroso são citados. Vêem-se também sábios como o professor Barlett, Hyslop, Morselli, Botazzi, William James, Lodge, Richet, o coronel de Rochas e outros, que não consideram esses estudos indignos da sua atenção. Que pensar, depois disso, das pechas de ridículo e de loucura? Que provam elas senão uma coisa contristadora: que o reino da rotina cega persiste em muitos meios?


O homem propende muitas vezes a julgar os fatos segundo o horizonte acanhado de seus preconceitos e conhecimentos. Cumpre-lhe levantar mais, dirigir mais longe o seu olhar e medir a sua fraqueza em face do universo. Desse modo aprenderá a ser modesto, a nada rejeitar nem condenar sem exame.